Entrevista a Gonçalo Lima Mayer, AQA Arquitetos Associados

Num setor cada vez mais exigente, onde os desafios da arquitetura exigem não apenas criatividade, mas também estrutura, método e visão de futuro, nasce a AQA Arquitetos Associados. Resultado da fusão entre duas práticas consolidadas, a Intergaup e a RMS, a AQA propõe uma nova abordagem: colaborativa, transversal e orientada para soluções eficazes e integradas. 

Por Sandra M. Pinto

Nesta entrevista, falamos com Gonçalo Lima Mayer, partner da AQA, sobre o que motivou esta união estratégica, como foi pensada a nova identidade da marca, e de que forma a AQA quer posicionar-se como um novo modelo no panorama da arquitetura em Portugal, mais coletivo, mais atento e mais preparado para responder aos desafios de hoje e de amanhã.

Como nasceu a ideia de unir a Intergaup e a RMS? O que motivou esta fusão e como se chegou ao conceito da AQA Arquitetos Associados?
A fusão nasce de uma afinidade construída ao longo do tempo entre duas práticas que, embora distintas, partilhavam uma visão muito clara: a arquitetura deve ser uma resposta precisa, eficaz e integrada às necessidades do cliente. A Intergaup e a RMS já colaboravam pontualmente e reconheciam no outro uma qualidade artística, ética de trabalho, um rigor técnico e uma atitude de serviço semelhantes. A criação da AQA foi uma consequência natural desse entendimento, um novo espaço onde o conhecimento é partilhado, o talento é valorizado e os projetos são pensados de forma colaborativa, com foco na excelência do resultado.

Que fatores tornaram este o momento certo para dar este passo tão estratégico no setor da arquitetura em Portugal?
O momento era o certo porque as duas estruturas tinham atingido uma maturidade que permitia pensar mais à frente. A fusão não surge por necessidade, mas por visão: por perceber que só com escala, organização e massa crítica se pode responder melhor a desafios cada vez mais complexos. A AQA foi pensada para ser mais do que a soma de duas marcas, é uma plataforma que garante ao cliente um acompanhamento transversal, com equipas capazes de oferecer soluções completas, desde o conceito à execução, sempre com o mesmo grau de compromisso e detalhe.

Como foi pensada a identidade da nova marca: nome, logótipo, conceito? O que significa realmente “AQA”?
AQA tem como base a sigla Arquitetos Associados, mas o nome carrega mais do que isso. É um símbolo de uma nova cultura de prática: horizontal, partilhada e exigente. O nome é curto, direto, memorável, como gostamos que sejam também as nossas respostas de projeto. O logótipo expressa essa clareza: uma marca forte, mas contida, rigorosa mas aberta. Queríamos que a identidade fosse coerente com o que oferecemos, uma arquitetura pensada em equipa, focada em resolver com inteligência e sensibilidade os desafios que nos são colocados.

De que forma a AQA rompe com o modelo tradicional de atelier e se posiciona como algo verdadeiramente novo no mercado nacional?
A AQA funciona como um atelier com escola, um lugar onde se pratica arquitetura com método, mas também se aprende, se discute, se evolui. Rompemos com o modelo autoral e hierárquico ao criar uma estrutura que valoriza o trabalho coletivo e fomenta o crescimento de cada arquiteto dentro de um ecossistema exigente, mas estimulante. Aqui, cada projeto é uma oportunidade de aprendizagem e melhoria contínua, e o cliente sente isso: sabe que tem uma equipa sólida, preparada e motivada, capaz de oferecer respostas integradas e eficazes, desde o primeiro esboço ao último detalhe em obra.

Referem que a arquitetura, para vocês, é antes de tudo uma resposta às necessidades. Como traduzem isso no vosso processo criativo e na relação com o cliente?
A nossa prática começa sempre pela escuta. Antes de desenhar, compreendemos: o contexto, o programa, as expectativas, os limites. Acreditamos que a boa arquitetura não nasce de uma ideia pré-concebida, mas de uma leitura atenta do que é necessário e possível. O processo é estruturado e envolve o cliente desde o início, porque é na partilha contínua que se afina a resposta. Mais do que criar “objetos”, desenvolvemos soluções, funcionais, coerentes e ajustadas que respondem com precisão àquilo que nos é pedido.

A nova marca representa um coletivo e não um nome individual. Como isso influencia a cultura interna e a forma como trabalham em equipa?
Trabalhar como coletivo implica reconhecer que o valor de um projeto está no trabalho em conjunto, e não na assinatura de um só. A cultura da AQA promove a coautoria, o debate crítico e a entreajuda como práticas naturais do dia a dia. A estrutura não é piramidal: é uma rede de pessoas com diferentes níveis de experiência, onde todos têm espaço para contribuir. Isto permite formar equipas mais ricas e motivadas, e garante que os projetos beneficiam de múltiplas perspetivas e competências.

O talento é um dos pilares centrais da AQA. Como incentivam o crescimento individual dentro de uma estrutura colaborativa?
Na AQA, cada arquiteto é visto como um profissional em crescimento. Incentivamos a autonomia responsável, o pensamento crítico e a aprendizagem contínua. Há espaço para explorar diferentes áreas, projeto, obra, investigação, gestão e somos intencionais em criar oportunidades para que cada um descubra e aprofunde as suas valências. Essa progressão individual acontece dentro de uma estrutura que apoia, desafia e acompanha. O talento não é algo que se impõe, é algo que se cultiva.

Com uma equipa de 40 profissionais, como garantem uma cultura de coesão, inclusão e partilha de ideias?
A dimensão da equipa é uma força, não um obstáculo, porque existe um modelo organizacional claro e uma cultura muito viva. Funcionamos por células de projeto, mas com momentos regulares de partilha transversal. Há revisão crítica interna, sessões abertas e um canal constante de diálogo entre todos os níveis. A comunicação é direta e os processos são transparentes. Valorizamos a diversidade de perfis, experiências e pontos de vista, é isso que torna a AQA mais completa, mais atenta e mais capaz.

Como foi desenhada a estratégia de branding da AQA e que mensagem querem passar com a vossa comunicação?
A estratégia de branding da AQA foi pensada para refletir aquilo que nos define enquanto prática: clareza, exigência, rigor e proximidade. Queríamos que a marca comunicasse confiança, competência e um espírito coletivo. Desde o nome ao logótipo, passando pela linguagem gráfica e verbal, tudo foi desenhado para expressar uma abordagem profissional, mas acessível, focada em resolver, não em impressionar. A nossa comunicação quer ser clara e objetiva, como são também as nossas respostas de projeto: diretas, fundamentadas e ajustadas ao que o cliente realmente precisa.

Tendo já reputações consolidadas no mercado, como equilibram a herança das marcas anteriores com o posicionamento de uma nova marca?
A AQA não nega o passado, integra-o e transforma-o. A experiência acumulada pela Intergaup e pela RMS é uma base sólida que nos permite hoje operar com mais confiança e ambição. Mas sabíamos que uma nova fase exigia uma nova identidade: não apenas uma fusão de nomes, mas a afirmação de um modelo diferente de pensar e fazer arquitetura. A herança está nos métodos, na ética, na exigência, mas o posicionamento é claramente contemporâneo e voltado para o futuro. Quem conhecia as marcas anteriores reconhece a continuidade na qualidade, mas percebe também o salto em termos de estrutura e proposta.

Como pretendem construir o reconhecimento da AQA junto dos vários públicos – clientes, parceiros, talentos, setor académico?
Com consistência. O nosso foco está em fazer bem, comunicar com verdade e construir relações duradouras com todos os interlocutores. No caso dos clientes e parceiros, isso passa por demonstrar capacidade de entrega, acompanhamento e rigor técnico. Para os talentos e o meio académico, queremos afirmar-nos como um espaço onde se aprende, se cresce e se pratica arquitetura com método e profundidade. O reconhecimento será sempre consequência do trabalho, não o objetivo em si.

A arquitetura nem sempre é um setor muito visível em termos de marketing. Pretendem ter uma presença mais ativa e próxima do público e dos media?
Sim, mas de forma alinhada com os nossos princípios: comunicar com substância, não por vaidade. Acreditamos que a arquitetura deve estar mais presente no espaço público, não como espetáculo, mas como contributo. Queremos partilhar o que fazemos, como fazemos e porquê. Isso inclui dar visibilidade a processos, decisões, equipas e não apenas ao resultado final. Estaremos presentes nos media quando fizer sentido, mas também nas redes, nas conferências, nas visitas de obra, nos momentos de partilha com estudantes ou cidadãos. A comunicação faz parte da prática, não está à margem dela.

Que canais de comunicação e estratégias digitais estão a explorar para reforçar a notoriedade da marca?
Estamos a construir uma presença digital sólida e coerente, com foco na clareza da mensagem e na valorização do conteúdo. O nosso site funciona como uma montra organizada da prática, não apenas com projetos, mas também com pensamento crítico, métodos e pessoas. Apostamos nas redes sociais de forma estratégica, privilegiando a qualidade sobre a quantidade. Também estamos a trabalhar com parceiros na área dos media digitais, branding e curadoria de conteúdos, para que a nossa comunicação seja não só visualmente cuidada, mas relevante e diferenciadora.

Já existem projetos emblemáticos em curso, como o Ananda Spa Resort. Que tipo de projetos querem desenvolver e como querem ser reconhecidos no mercado?
Queremos trabalhar em projetos que nos desafiem a pensar de forma integrada, seja pela complexidade técnica, pela exigência do programa ou pela escala do impacto. Mais do que um estilo ou um setor específico, o que nos interessa é a oportunidade de aplicar o nosso método: escuta ativa, desenvolvimento colaborativo e resposta precisa. Projetos como o Ananda Spa Resort mostram a nossa capacidade de lidar com programas multidimensionais, com rigor e criatividade. No mercado, queremos ser reconhecidos por isso: pela consistência, pela qualidade e pela forma como gerimos cada etapa do processo com seriedade.

A AQA foi pensada para o mercado nacional ou ambiciona também uma afirmação internacional?
A AQA nasce com uma base sólida no mercado nacional, mas com estrutura e ambição para operar além-fronteiras. Já temos contactos e colaborações internacionais em curso, e estamos atentos a oportunidades fora de Portugal. Sabemos que o reconhecimento internacional é uma construção progressiva, mas acreditamos que o nosso modelo – que alia rigor técnico, organização interna e uma abordagem centrada no cliente – tem valor em qualquer contexto. A internacionalização será sempre uma consequência do trabalho bem feito, e não um fim em si mesmo.

Que tipo de feedback têm recebido até agora sobre esta nova fase? O mercado já sente a diferença da vossa abordagem?
O feedback tem sido muito positivo, tanto de clientes como de parceiros e colegas de profissão. Sentem a diferença na forma como nos apresentamos, mas sobretudo na forma como respondemos: com mais organização, mais profundidade e mais agilidade. A escala permite-nos ser mais versáteis, e o modelo colaborativo transmite confiança. O mercado percebe que a AQA não é apenas uma mudança de nome, é uma mudança de cultura, de método e de ambição.

Em que medida a vossa estrutura e visão estão preparadas para escalar e responder a desafios maiores nos próximos anos?
A estrutura da AQA foi desenhada precisamente para isso, para crescer de forma sustentada. Temos equipas técnicas com valências diversas, uma organização interna clara e processos consolidados que nos permitem escalar com segurança. A nossa visão é exigente, mas realista: queremos crescer com qualidade, mantendo a cultura de proximidade, o cuidado com o detalhe e o espírito de escola. Cada novo desafio é uma oportunidade de consolidar o que somos, e de continuar a evoluir com consistência.

Como veem o futuro da arquitetura em Portugal e que papel querem que a AQA desempenhe nesse cenário?
Vemos um futuro mais exigente, mas também mais aberto à pluralidade e à especialização. A arquitetura vai ter de provar, cada vez mais, a sua relevância, não apenas pela estética, mas pela capacidade de responder com eficácia aos problemas concretos do território, da habitação, da cidade. A AQA quer ser um agente ativo nesse futuro: não pela escala do discurso, mas pela qualidade da prática. Queremos contribuir para uma arquitetura mais consciente, mais competente e mais colaborativa. E queremos fazê-lo com método, com ética e com pessoas que acreditam que a boa arquitetura começa por ouvir e só depois, desenhar.

Por Sandra M. Pinto .  Marketeer .

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