30 de Julho, 2025

Entrevista a Gonçalo Lima Mayer, AQA Arquitetos Associados

Espaço de Arquitetura Por Espaço de Arquitetura

Partilhar


Num setor cada vez mais exigente, onde os desafios da arquitetura exigem não apenas criatividade, mas também estrutura, método e visão de futuro, nasce a AQA Arquitetos Associados. Resultado da fusão entre duas práticas consolidadas, a Intergaup e a RMS, a AQA propõe uma nova abordagem: colaborativa, transversal e orientada para soluções eficazes e integradas. 

Por Sandra M. Pinto

Nesta entrevista, falamos com Gonçalo Lima Mayer, partner da AQA, sobre o que motivou esta união estratégica, como foi pensada a nova identidade da marca, e de que forma a AQA quer posicionar-se como um novo modelo no panorama da arquitetura em Portugal, mais coletivo, mais atento e mais preparado para responder aos desafios de hoje e de amanhã.

Como nasceu a ideia de unir a Intergaup e a RMS? O que motivou esta fusão e como se chegou ao conceito da AQA Arquitetos Associados?
A fusão nasce de uma afinidade construída ao longo do tempo entre duas práticas que, embora distintas, partilhavam uma visão muito clara: a arquitetura deve ser uma resposta precisa, eficaz e integrada às necessidades do cliente. A Intergaup e a RMS já colaboravam pontualmente e reconheciam no outro uma qualidade artística, ética de trabalho, um rigor técnico e uma atitude de serviço semelhantes. A criação da AQA foi uma consequência natural desse entendimento, um novo espaço onde o conhecimento é partilhado, o talento é valorizado e os projetos são pensados de forma colaborativa, com foco na excelência do resultado.

Que fatores tornaram este o momento certo para dar este passo tão estratégico no setor da arquitetura em Portugal?
O momento era o certo porque as duas estruturas tinham atingido uma maturidade que permitia pensar mais à frente. A fusão não surge por necessidade, mas por visão: por perceber que só com escala, organização e massa crítica se pode responder melhor a desafios cada vez mais complexos. A AQA foi pensada para ser mais do que a soma de duas marcas, é uma plataforma que garante ao cliente um acompanhamento transversal, com equipas capazes de oferecer soluções completas, desde o conceito à execução, sempre com o mesmo grau de compromisso e detalhe.

Como foi pensada a identidade da nova marca: nome, logótipo, conceito? O que significa realmente “AQA”?
AQA tem como base a sigla Arquitetos Associados, mas o nome carrega mais do que isso. É um símbolo de uma nova cultura de prática: horizontal, partilhada e exigente. O nome é curto, direto, memorável, como gostamos que sejam também as nossas respostas de projeto. O logótipo expressa essa clareza: uma marca forte, mas contida, rigorosa mas aberta. Queríamos que a identidade fosse coerente com o que oferecemos, uma arquitetura pensada em equipa, focada em resolver com inteligência e sensibilidade os desafios que nos são colocados.

De que forma a AQA rompe com o modelo tradicional de atelier e se posiciona como algo verdadeiramente novo no mercado nacional?
A AQA funciona como um atelier com escola, um lugar onde se pratica arquitetura com método, mas também se aprende, se discute, se evolui. Rompemos com o modelo autoral e hierárquico ao criar uma estrutura que valoriza o trabalho coletivo e fomenta o crescimento de cada arquiteto dentro de um ecossistema exigente, mas estimulante. Aqui, cada projeto é uma oportunidade de aprendizagem e melhoria contínua, e o cliente sente isso: sabe que tem uma equipa sólida, preparada e motivada, capaz de oferecer respostas integradas e eficazes, desde o primeiro esboço ao último detalhe em obra.

Referem que a arquitetura, para vocês, é antes de tudo uma resposta às necessidades. Como traduzem isso no vosso processo criativo e na relação com o cliente?
A nossa prática começa sempre pela escuta. Antes de desenhar, compreendemos: o contexto, o programa, as expectativas, os limites. Acreditamos que a boa arquitetura não nasce de uma ideia pré-concebida, mas de uma leitura atenta do que é necessário e possível. O processo é estruturado e envolve o cliente desde o início, porque é na partilha contínua que se afina a resposta. Mais do que criar “objetos”, desenvolvemos soluções, funcionais, coerentes e ajustadas que respondem com precisão àquilo que nos é pedido.

A nova marca representa um coletivo e não um nome individual. Como isso influencia a cultura interna e a forma como trabalham em equipa?
Trabalhar como coletivo implica reconhecer que o valor de um projeto está no trabalho em conjunto, e não na assinatura de um só. A cultura da AQA promove a coautoria, o debate crítico e a entreajuda como práticas naturais do dia a dia. A estrutura não é piramidal: é uma rede de pessoas com diferentes níveis de experiência, onde todos têm espaço para contribuir. Isto permite formar equipas mais ricas e motivadas, e garante que os projetos beneficiam de múltiplas perspetivas e competências.

O talento é um dos pilares centrais da AQA. Como incentivam o crescimento individual dentro de uma estrutura colaborativa?
Na AQA, cada arquiteto é visto como um profissional em crescimento. Incentivamos a autonomia responsável, o pensamento crítico e a aprendizagem contínua. Há espaço para explorar diferentes áreas, projeto, obra, investigação, gestão e somos intencionais em criar oportunidades para que cada um descubra e aprofunde as suas valências. Essa progressão individual acontece dentro de uma estrutura que apoia, desafia e acompanha. O talento não é algo que se impõe, é algo que se cultiva.

Com uma equipa de 40 profissionais, como garantem uma cultura de coesão, inclusão e partilha de ideias?
A dimensão da equipa é uma força, não um obstáculo, porque existe um modelo organizacional claro e uma cultura muito viva. Funcionamos por células de projeto, mas com momentos regulares de partilha transversal. Há revisão crítica interna, sessões abertas e um canal constante de diálogo entre todos os níveis. A comunicação é direta e os processos são transparentes. Valorizamos a diversidade de perfis, experiências e pontos de vista, é isso que torna a AQA mais completa, mais atenta e mais capaz.

Como foi desenhada a estratégia de branding da AQA e que mensagem querem passar com a vossa comunicação?
A estratégia de branding da AQA foi pensada para refletir aquilo que nos define enquanto prática: clareza, exigência, rigor e proximidade. Queríamos que a marca comunicasse confiança, competência e um espírito coletivo. Desde o nome ao logótipo, passando pela linguagem gráfica e verbal, tudo foi desenhado para expressar uma abordagem profissional, mas acessível, focada em resolver, não em impressionar. A nossa comunicação quer ser clara e objetiva, como são também as nossas respostas de projeto: diretas, fundamentadas e ajustadas ao que o cliente realmente precisa.

Tendo já reputações consolidadas no mercado, como equilibram a herança das marcas anteriores com o posicionamento de uma nova marca?
A AQA não nega o passado, integra-o e transforma-o. A experiência acumulada pela Intergaup e pela RMS é uma base sólida que nos permite hoje operar com mais confiança e ambição. Mas sabíamos que uma nova fase exigia uma nova identidade: não apenas uma fusão de nomes, mas a afirmação de um modelo diferente de pensar e fazer arquitetura. A herança está nos métodos, na ética, na exigência, mas o posicionamento é claramente contemporâneo e voltado para o futuro. Quem conhecia as marcas anteriores reconhece a continuidade na qualidade, mas percebe também o salto em termos de estrutura e proposta.

Como pretendem construir o reconhecimento da AQA junto dos vários públicos – clientes, parceiros, talentos, setor académico?
Com consistência. O nosso foco está em fazer bem, comunicar com verdade e construir relações duradouras com todos os interlocutores. No caso dos clientes e parceiros, isso passa por demonstrar capacidade de entrega, acompanhamento e rigor técnico. Para os talentos e o meio académico, queremos afirmar-nos como um espaço onde se aprende, se cresce e se pratica arquitetura com método e profundidade. O reconhecimento será sempre consequência do trabalho, não o objetivo em si.

A arquitetura nem sempre é um setor muito visível em termos de marketing. Pretendem ter uma presença mais ativa e próxima do público e dos media?
Sim, mas de forma alinhada com os nossos princípios: comunicar com substância, não por vaidade. Acreditamos que a arquitetura deve estar mais presente no espaço público, não como espetáculo, mas como contributo. Queremos partilhar o que fazemos, como fazemos e porquê. Isso inclui dar visibilidade a processos, decisões, equipas e não apenas ao resultado final. Estaremos presentes nos media quando fizer sentido, mas também nas redes, nas conferências, nas visitas de obra, nos momentos de partilha com estudantes ou cidadãos. A comunicação faz parte da prática, não está à margem dela.

Que canais de comunicação e estratégias digitais estão a explorar para reforçar a notoriedade da marca?
Estamos a construir uma presença digital sólida e coerente, com foco na clareza da mensagem e na valorização do conteúdo. O nosso site funciona como uma montra organizada da prática, não apenas com projetos, mas também com pensamento crítico, métodos e pessoas. Apostamos nas redes sociais de forma estratégica, privilegiando a qualidade sobre a quantidade. Também estamos a trabalhar com parceiros na área dos media digitais, branding e curadoria de conteúdos, para que a nossa comunicação seja não só visualmente cuidada, mas relevante e diferenciadora.

Já existem projetos emblemáticos em curso, como o Ananda Spa Resort. Que tipo de projetos querem desenvolver e como querem ser reconhecidos no mercado?
Queremos trabalhar em projetos que nos desafiem a pensar de forma integrada, seja pela complexidade técnica, pela exigência do programa ou pela escala do impacto. Mais do que um estilo ou um setor específico, o que nos interessa é a oportunidade de aplicar o nosso método: escuta ativa, desenvolvimento colaborativo e resposta precisa. Projetos como o Ananda Spa Resort mostram a nossa capacidade de lidar com programas multidimensionais, com rigor e criatividade. No mercado, queremos ser reconhecidos por isso: pela consistência, pela qualidade e pela forma como gerimos cada etapa do processo com seriedade.

A AQA foi pensada para o mercado nacional ou ambiciona também uma afirmação internacional?
A AQA nasce com uma base sólida no mercado nacional, mas com estrutura e ambição para operar além-fronteiras. Já temos contactos e colaborações internacionais em curso, e estamos atentos a oportunidades fora de Portugal. Sabemos que o reconhecimento internacional é uma construção progressiva, mas acreditamos que o nosso modelo – que alia rigor técnico, organização interna e uma abordagem centrada no cliente – tem valor em qualquer contexto. A internacionalização será sempre uma consequência do trabalho bem feito, e não um fim em si mesmo.

Que tipo de feedback têm recebido até agora sobre esta nova fase? O mercado já sente a diferença da vossa abordagem?
O feedback tem sido muito positivo, tanto de clientes como de parceiros e colegas de profissão. Sentem a diferença na forma como nos apresentamos, mas sobretudo na forma como respondemos: com mais organização, mais profundidade e mais agilidade. A escala permite-nos ser mais versáteis, e o modelo colaborativo transmite confiança. O mercado percebe que a AQA não é apenas uma mudança de nome, é uma mudança de cultura, de método e de ambição.

Em que medida a vossa estrutura e visão estão preparadas para escalar e responder a desafios maiores nos próximos anos?
A estrutura da AQA foi desenhada precisamente para isso, para crescer de forma sustentada. Temos equipas técnicas com valências diversas, uma organização interna clara e processos consolidados que nos permitem escalar com segurança. A nossa visão é exigente, mas realista: queremos crescer com qualidade, mantendo a cultura de proximidade, o cuidado com o detalhe e o espírito de escola. Cada novo desafio é uma oportunidade de consolidar o que somos, e de continuar a evoluir com consistência.

Como veem o futuro da arquitetura em Portugal e que papel querem que a AQA desempenhe nesse cenário?
Vemos um futuro mais exigente, mas também mais aberto à pluralidade e à especialização. A arquitetura vai ter de provar, cada vez mais, a sua relevância, não apenas pela estética, mas pela capacidade de responder com eficácia aos problemas concretos do território, da habitação, da cidade. A AQA quer ser um agente ativo nesse futuro: não pela escala do discurso, mas pela qualidade da prática. Queremos contribuir para uma arquitetura mais consciente, mais competente e mais colaborativa. E queremos fazê-lo com método, com ética e com pessoas que acreditam que a boa arquitetura começa por ouvir e só depois, desenhar.

Por Sandra M. Pinto .  Marketeer .

LINKS
Galeria
artigos RELACIONADOS