
Na história da arquitetura, poucas formas geométricas revelaram-se tão persistentes, simbólicas e versáteis como o círculo.
Desde as primeiras construções megalíticas até aos mais arrojados edifícios contemporâneos, o uso do traçado circular tem atravessado séculos, culturas e estilos com uma capacidade única de evocar unidade, continuidade e centralidade.
Ao contrário das linhas retas, que transmitem rigidez e ordem, o círculo introduz no espaço uma ideia de movimento fluído. Em muitas tradições arquitetónicas, é precisamente essa característica que confere ao círculo o seu poder simbólico: ciclos, eternidade, infinito.
Do passado ancestral à arquitetura moderna
As primeiras manifestações circulares da arquitetura são visíveis em estruturas como o Stonehenge, no Reino Unido, ou os tholos gregos, construções funerárias com planta circular.
Ao longo do tempo, a forma foi adaptada a diferentes funções: arenas romanas, cúpulas renascentistas, salas de concertos, planetários e auditórios.
Na arquitetura islâmica, os motivos circulares são usados em domos e pátios, promovendo a ideia de centralidade e conexão espiritual.
Já no mundo contemporâneo, o círculo continua a ser explorado em projetos, seja pela sua estética, pelo conforto acústico que proporciona, ou pela forma como estimula a circulação de pessoas em ambientes públicos.
Cúpulas, auditórios e centros urbanos
Algumas das estruturas mais reconhecíveis da arquitetura mundial têm no círculo a sua base conceptual.
A cúpula do Panteão de Roma, com o seu óculo central, é um exemplo intemporal da perfeição geométrica aplicada à arquitetura monumental.
Mais recentemente, projetos como o Palácio do Parlamento Europeu ou o Teatro Nacional da China mostram como o traço curvo continua a dominar grandes volumes.
Em escala urbana, o círculo assume também relevância em praças, rotundas, jardins públicos e pavilhões circulares, favorecendo uma ocupação mais orgânica do espaço.
A fluidez visual da planta circular é frequentemente associada a ambientes mais democráticos, de igualdade e acessíveis, sem cantos, hierarquias ou barreiras visuais evidentes.
O círculo além da arquitetura: da simbologia ao jogo
A influência da geometria circular ultrapassa as fronteiras da arquitetura. A simbologia do círculo está presente em múltiplas formas de expressão, do design gráfico à arte sacra, da mandala ao labirinto.
Curiosamente, esta forma geométrica tão presente nos espaços físicos também inspirou o design de jogos tradicionais, como é o caso da roleta. Nos jogos de roleta online, por exemplo, o círculo mantém o seu papel simbólico: um eixo, movimento contínuo e distribuição equilibrada das possibilidades, agora transposto para plataformas digitais com design minimalista e funcional, e ainda com diferentes versões de jogo.
Uma forma que desafia e equilibra
Mais do que uma escolha estética, o círculo representa então na arquitetura um desafio técnico e conceptual.
Desde a estruturação de coberturas em domo até à organização de interiores circulares, os arquitetos continuam a explorar novas formas de utilizar esta figura geométrica para romper com o padrão ortogonal dominante.
Seja como elemento central ou subtil referência visual, o círculo mantém-se atual. Num tempo em que se valoriza tanto a sustentabilidade, a acessibilidade e o equilíbrio, esta forma continua a oferecer respostas modernas e criativas aos desafios da arquitetura contemporânea.
Imagens Unsplash
Construção megalítica © Robert Anderson
Cúpula do Panteão de Roma ©Jason Steele