Centro Descanso Mães Atípicas

A permissa do projeto Centro Descanso Mães Atípicas, foi a total integração e acessibilidade para os filhos atípicos que vão usufruir do espaço com as suas mães. Quando falo da acessibilidade não é apenas das condicionantes físicas, mas também as fundamentais para uma arquitetura pensada de modo a mitigar as dificuldades do público alvo que vai desfrutar e apropriar-se do espaço.

As principais decisões projetuais tiveram em conta as necessidades especificas do autismo e como a arquitetura pode e deve trabalhar no sentido de melhorar a interação entre a pessoa atípica e os espaços ao seu redor. Isto é, a arquitetura não é o centro da questão, mas sim um meio operativo pensado e desenvolvido para responder às questões especificas, emocionais e funcionais.

A área de construção ronda os 5.900 m2, sendo que a área limite do projeto, no máximo, é de aproximadamente 2.5 ha (hectares). Os edifícios estão organizados e distribuem-se em três grandes áreas: (1) Área Administrativa e Educacional; (2) Área para os filhos; (3) Área para as mães.

Entre os edifícios desenvolvem-se os jardins sensoriais e os espaços das hortas. Ao redor temos as áreas externas: Portaria; Estacionamento; Piscina e quadra coberta.

Os edifícios organizam as três áreas supramencionadas (Área Administrativa, Área para os filhos, Área para as mães) e os espaços interiores acompanham essa organização e adequam-se às especificidades de cada um, sem perderem a característica racional de um projeto que se quer com custos controlados.

Os espaços do edifício administrativo são pragmáticos sem nunca desligar da emoção do jardim sensorial mesmo ao seu lado, proporcionando momentos de concentração, aprendizado e tranquilidade.

Os espaços do edifício dos filhos têm em conta as necessidades especificas deles, através do uso de cores variadas, os “nichos” construídos nos móveis onde as crianças podem se deitar, sentar, enfim… apropriarem-se do modo que quiserem. Estes ambientes são transversais na biblioteca, brinquedoteca e sala de auto regulação.

Os espaços do edifício das mães focam-se no descanso e relaxamento que estes podem lhes proporcionar. Quartos simples com banheiro que se desenvolvem para um espelho de água. Uma lâmina de água que pode ser acessada através de um alpendre, independente de cada quarto e com privacidade para contemplação, relaxamento e tranquilidade.

O mote para o desenvolvimento do projeto foi a preocupação espacial através da acessibilidade e inclusão dos autistas. Uma preocupação que se materializou em edifícios térreos garantindo a acessibilidade, uma piscina totalmente acessível com uma rampa de acesso para cadeirantes e os ambientes interiores e exteriores pensados para as necessidades dos autistas.

O projeto inclui vários espaços de convivência para os filhos e um espaço especifico para uso das mães, bem como uma pequena sala de cinema. As mães vão também desfrutar de uma sala de massagem e uma sala para terapias, ambas com vista para o espelho de água.

Com base na informação do sitio da internet “Aspectss, Architecture for Autism” (Arquitetura para o Autismo), cuja responsável é a arquiteta Magda Mostafa, atualmente ela é uma das maiores referencias mundiais na matéria, e informa que ainda não existe um projeto no Brasil que tenha como princípios uma arquitetura focada para o autismo, nas suas diversas vertentes, apenas alguns trabalhos elaborados por estudantes. Julgo que quando projetamos para um determinado lugar, público ou privado, temos de ter em conta as suas vicissitudes, os seus problemas e as suas necessidades, para que a arquitetura possa dar a resposta mais adequada. Acredito que isto não é uma questão de inovação, mas sim de responder às questões que a sociedade necessita que sejam atendidas. Esse é um dos muitos manifestos da arquitetura, ela é para todos!

Sem dúvida que o maior desafio deste projeto, foi investigar, estudar e conhecer as necessidades dos futuros utilizadores atípicos. O meu maior aprendizado foi que, quando desenhamos e projetamos para um determinado público, seja autista ou com outras características especificas, estamos a projetar para toda a gente, não existe projeto arquitetônico mais democrático quando todos podem usufruir à sua maneira o mesmo espaço, seja ele público ou privado.

 

Nuno Duarte

Arquiteto e Urbanista